Lembro-me de ir com a minha mãe à praça todos os sábados de manhã. De mão dada, percorríamos todas as banquinhas e falávamos a toda a gente. Uma vez feitas as compras para a semana, lá íamos ambas rua fora até casa, passando pelo café e pelo jardim, parando no caminho para falarmos a amigos e conhecidos. Era cansativo, mas eu adorava. Sempre gostei de passear e, mais do que isso, de dançar!
Não perdia um bailarico - foi num deles que conheci o meu marido – mas depois de casada, apesar de adorar música, nunca dançava por causa da minha perna. Eu conseguia dançar! Fartava-me de dançar em casa sozinha, mas em público tinha vergonha de ser ridícula e só de pensar que as pessoas podiam comentar.. o meu marido adorava dançar e eu passava a vida a recusar-me a ir com ele aos bailes por causa do embaraço! Até deixei de ouvir música.
Depois do falecimento do meu marido dei por mim a passar cada vez mais tempo em casa, sozinha. A solidão é a pior coisa – é um vazio que se alimenta de nós e que vai absorvendo, aos poucos, a nossa energia e alegria. Felizmente tenho uma família muito atenta e no final de um almoço lá em casa, prometi aos meus filhos – e a mim mesma – duas coisas: procurar ajuda psicológica e voltar a ouvir música.
De facto, foram os primeiros dois passos para uma reviravolta: passei a sair mais de casa, a passear com os meus netos, e o engraçado é que num desses passeios, acabei à porta de uma associação a ouvir música de baile que vinha do interior. Enchi-me de coragem e entrei. Há tanto tempo que não me divertia assim. Dancei, dancei e voltei a dançar. Quando saí, percebi que não fazia sentido deixar de fazer aquilo que mais gostava. Desde então, não perco um bailarico.